quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O caracol da Lurdes


Soube depois que Lurdes é jardineira. Estaria ela longe de imaginar que, esta sua imagem, resultaria tão fresca também. 99% das mulheres não sabe quem é o Rudi Voller, mas ela sim. Herdou e saboreia os ares altivos Germânicos.  A Marcela é a testa de ferro que lhe chega ao queixo. Acabou-se a turfa fertilizada Delgarden mas o grossista já recebeu o telefonema e sabe que não pode demorar. A turfa não tem só minhocas, tem caracóis, e ela gosta deles.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Fifty Shades of Blue


Sábado, 10h30. O despertador foi desligado mas ainda assim tocou naquela manhã, na cabeça do Carlos. Rotinas semanais por demais incompatíveis com o on/off.
O habitué saco plástico do Expresso deu lugar a um livro. A obra ainda não o cativou, mas admite que é um leitor fácil. De Dante a Paul Ricoeur passando por Danielle Steel, o virar da página é um prazer que só se compara ao aeromodelismo da Airfix. Com a Revell a experiência não é a mesma devido à qualidade das tintas e colas.

[os tons desta publicação continuam os seus contornos aqui]

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Le Penseur


Rodin moldou o pensador. Augusto não molda o futuro. Não olha para a frente porque só conjuga verbos no passado. É nele que encontra alegria e indumentária. Veste o antigo. Cabelo alvo, prova que o passado já foi. Atrás dele a juventude. O pensamento é de cada um. O silêncio é um dos argumentos mais difíceis de refutar.

sábado, 13 de outubro de 2012

Contra relógio


Posa para a câmara como quem já o fez muitas vezes. É como andar de bicicleta. A crise obrigou-o a comprar um óculo Berg que o denuncia. Barbosa é ciclista.
No phasing-out da carreira, tapa o pulso esquerdo com o casaco porque, quando o ciclismo deixa de ser profissão e se torna passatempo, o tempo já não importa. Guarda na cabeceira a sua cassette Shimano.
A prega faz-lhe o balão, que lhe dá a liberdade que uma carreira vestida de licra lhe trilhou. Prego a fundo Barbosa.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Stile Italiano, non solo moto


Camisa outrora rosso-ferrari  desbotada pelo tempo e detergentes do Lidl. Henrique, qual Briatore, mas nem isso. Ia às finanças pedir uma certidão depois de não passar na malha fina do QREN. Henrique fez um pit-stop cultural para repousar sua íris oliva. Depois de saber o seu novo escalão de IRS descobriu que era rico. Ainda assim, Milan Fashion Week nada lhe diz.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

The Frutalmeidas gentleman



Live fast, die young. Poderia ser o lema de vida de quem, como o ligeiro António, atravessa um sinal vermelho.
"Homem que é homem não olha para o semáforo, vê se vem algum."
À espera, um pastel de massa tenra. Não é um adjectivo gratuito, porque "tenro" poderia vir no dicionário junto a uma imagem dos famigerados salgados. Da mesma forma que a entrada de "coolness" seria ilustrada por uma foto tipo passe de António. Teria era de ser na edição de Oxford, porque o nosso léxico luso carece ainda de anglicismos pertinentes. Quão mal soaria dizer que "António arriscou a vida num vermelho, mas cheio de pintarola"?

[esta publicação pode ser vista aqui também]

domingo, 7 de outubro de 2012

Um dia não são muitos


Cruzei-me com o Adelino, 71, engenheiro reformado da EDP. Confessa que hoje é cada vez mais difícil encontrar roupa que goste. Diz que o que é liso não tem nada que enganar.
"Eu em novo era um grande ponta de lança. No liceu, entrava na sala, sentava-me sempre ao lado da rapariga mais bonita. Um dia cheguei atrasado por causa do 83, e tive de me sentar ao lado da mais feia da turma. Ainda hoje a tenho lá em casa", recorda.
De língua solta, e digamos injusta, Adelino revela-se à velocidade de uma polaroid. Ainda que goste de lisos e simplicidade dos tons, a sua fotografia mental é por demais complexa e com padrões caleidoscópicos.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Rua Guerra Junqueiro


Esta fotografia devia chamar-se "serenidade e bom senso". Foi exactamente o que me ocorreu quando fotografei o Sr. Carlos.
Só podia ser isso.
Às vezes tudo é tão simples quanto isto.

Work is where your mobile is


O sumo de couve com limão ajuda no funcionamento intestinal. Para o Jorge e o irmão, os negócios não têm segredos e, com a economia e as namoradas a contrair, a empresa dele passou de nano a micro no espaço de meio ano. A exportar, conta-nos.
Óculos fashional polarizados fitover. Uma toalha gasta, que sofreu com o Jorge na pele, as grandes bombas, faz notar, sem chapão, na praia fluvial de S. Gemil.
No saco de plástico não quis contar o que trazia. Um segredo bem guardado. Apenas mais tarde e de câmara já no coldre é que o segredo não tinha razão de ser. Eram apenas sandes de panados de peru.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Yes, we do love bags!


Os apertos da vida cruzam-se com os pesos das compras de oportunidade. Carlos e Rosa, um nome em sintonia com a blusa - será coincidência? - procuram almejar a poupança conjunta. O aparente embaraço dos sacos foi para mim o ponto forte desta imagética que tão bem representa o nosso Portugal contemporâneo. Rosa ainda pede para esconder um pouco do seu saco, para ficar mais "arranjadinha". Eu decido o que quero fotografar, como quero fotografar, e naturalmente esse lance ficou para a posteridade. Because, yes, they and we all love bags...

À espera de Godot


Cá de baixo todos parecemos iguais, e lá de cima todos parecem atrasados. António espera a sua esposa de uma vida, vai conseguindo vê-la passar pela janela e por isso sabe que ainda vai demorar mais uns minutos. As lentes photogrey escurecidas não conseguem disfarçar o tempo de espera que já vai longo. Quem ainda gostava de apanhar uns casais amigos na Mexicana, talvez tenha de beber o café pingado com a companhia do costume, com a companhia da sua esposa. Se faz mal? Claro que não. Por um café com quem se ama, por esses breves minutos, podemos esperar dias, semanas, ou até eternidades encostados a um pino que evita o estacionamento indevido.

Senhor Manuel Azevedo na Coutada

  

Falhou-lhe a mão no bolso. Está habituado a umas de fazenda creme que estavam para passar. Do alto da sua coutada olha as águas estagnadas. Uma pausa merecida. Um olhar intenso. Uma pergunta sobre tudo o que gostaria de ser. Despede-se do Verão.

Sérgio, são três kiwis


Sérgio, píscivoro, gostava de ser vegetariano  mas não deu. Vende fruta em Alfama. "Mas eu hoje estou de calças de ganga", disse, "podia estar mais bonito," acrescentou.That's up to me to say” respondi  (como quem aproveita o elogio explícito à  sugestão para se dar ao luxo de brincar com quem acabou de conhecer).

Que força é essa Francis?


A vida trouxe sem estima um Francis ao Terreiro do Paço. De onde antes chegavam especiarias, chega agora uma discreta combinação de tons claros. Contrastante com o calçado escuro, tudo joga numa combinação nos tons do xadrez que Francis tanto praticou em Nairobi.
Os concertos pouco lhe dizem. Em nada aquelas músicas fazem parte de si, por isso, nunca de frente para o palco, reserva-se numa posição lateral, de desconfiança mas de quem ainda assim quer dar uma oportunidade aos artistas.

Moscavide no Terreiro do Paço


Casaco-camisa de ganga perfeitamente alinhado com panamá oferecido num aniversário, não se recorda por quem. Na altura Artur nem gostou muito, mas com o passar do tempo, sabendo que é alguém que o vê muitas vezes, acha por bem usá-lo em ocasiões sociais ou festas. Não quer deixar um amigo mal.

São surpreende-se


Ia apanhar o barco para o Seixal e foi apanhada desprevenida por um belo concerto da Carminho, um momento muito agradável. E deu um passinho de dança, é coisa de malta jovem mas ela também gosta. Sandálias em folho condizem com flôr azul e verde fim de estação veraneante. Harmonia.

Armindo aguarda


Armindo, sereno, aguarda pelo final de Paulo Gonzo, com cuja cara nunca foi porque lhe faz lembrar os serões de novela a que a mulher o obriga.

A Dulce no Martinho da Vila


Falta de compromisso e liberdade, com estilo das rotinas mundanas. Foi pena ter de cortar os  sapatos que eram em tons fucsia. O detalhe, esse, era esmagador.