quarta-feira, 20 de maio de 2015

Em tons de toldos

Manuel gosta de ser libre, como aquela bebida chamada cuba. Gosta também do desprendimento e liberdade dos dias que o camping proporcionam. Chega de zum zum e barulho, porque agora o único som que cultiva é o silvo do crepitar das brasas.
O refúgio da solidão é indispensável à sanidade, que apenas é contrabalançado com a impossibilidade de ter sinal 3G para ver se há golos em Lisboa.
A vida é feita de escolhas. Manuel escolhe um calção clássico vermelho, e fazer a mulher feliz.


São degraus

Na vida subiu muitos degraus, mas chegou a altura de sentar. A idade cortou dois maços para um, e pensa um dia deixar de comprar e começar só a cravar.
É uma vida de contrastes. O bem, o mal, o quente, o frio. Manuel vive no limbo. Tem frio no peito, calor infernal nos braços, nos pés volta a ter calor, mas não demasiado, e de bainhas nada sabe sobre as tendências hipsters, mas na dúvida o melhor é cortar.
O sapateiro decidiu voltar às ruas.



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Uma para o assadouro, outra para o bucho


No Outono são castanhas lá de cima, sem saber bem de onde. Atira perto de Lamego, mas sem poder garantir. No Verão a cantiga é diferente, mas o poiso o mesmo. Os gelados Olá vão encher as gavetas que agora se aquecem de castanhas cinzentas. Um euro meia dúzia, dois euro a dúzia. Paiva Couceiro, na esquina, que infelizmente é a mais ventosa, mas também é onde passa mais gente. Não estudou Belas Artes, mas a manusear o x-acto duvida que alguém o faça tão bem. Uma maquete em balsa nada lhe diz.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Em tons de chá-chá-chá


Pelo braço um casaco. Por ele já passaram muitos outros braços e costas, mas de raparigas, em danças tantas vezes repetidas nos Alunos de Apolo. "Deixei de lá ir, porque uma vez se recusaram a tocar um chá-chá-chá. Percebi que era malta da chacha só".
A esposa continua brilhante na aliança, que só tira quando escreve no computador. O boné, é da sorte, e teve nessa manhã o uso semanal: jogar no Euromilhões no automático. "Estou com fé nestes números", atira Carlos logo depois de lhes dar uma olhadela de soslaio.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Ricardo e pilar


Ricardo, amante da calçada Portuguesa. Não é polícia, espera pela mãe. Foi apanhado sem bilhete no metro, coima até 100 vezes o euro e quinze do zapping. Mas a guarda não lhe dá pano para mangas. Malha da polícia só mesmo o casaco fosfurescente, desta vez Ricardo escapa imune. A polícia optou pela pedagogia. Cá eles não comem donuts, degustam macarons do Poisson d'Amour, e ofereceram-lhe.

A mãe não chega. Desconfia agora que está no sítio errado porque ali o carro não pode parar. Ainda vai ter que correr quando ela lhe der um toque.

sábado, 3 de novembro de 2012

Castanha de Verão


"Giro, discreto da cinta para baixo e meigo. Ouço Trovante, Resistência e Xutos mas só sei de cor a 125 Azul. Lembra-me as férias no Algarve, onde um dia saltei uma grade para os ver, mas eles tocaram todas menos essa."

Gabriel ganhou bicep a descascar castanha de Sernancelhe que comia nos magustos da firma.
"Só espero que não me façam mal, mas se fizerem, hoje também sou só eu a ver um filme lá em casa."

Tem um coração maior que os deltóides, prejudica-se de bom. Uma vez foi ajudar numa mudança. Muito amigo, muito amigo, mas fizeram-no pagar uma estante Billy que ele nem sequer acartou."Quatro contos inchas tu, ó anjinho."

O cinto faz a ponte da ganga ao azul claro. Sugerido pela namorada, na altura nem gostou, mas reconhece hoje que lhe fica bem. Encara o sol de frente. Usa os óculos, mas olha por cima.

E o relógio? "É de quartzo mas também uso nas salaz," diz ele a piscar o olho.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

HAL 9001


Os computadores têm sempre razão, quer nós queiramos quer não. "E para bem da nossa existência é bom que não estejamos dependentes deles".
O xadrez listado do preto e branco jogam num tabuleiro composto por calças e t-shirt. Mas desta vez o que está em xeque-mate é algo mais mundano que a abertura de uma porta em pleno espaço sideral. Estranhamente o botão de disparo recusa-se a responder, e do outro lado a pose perde a naturalidade que já tinha sido imposta.
Helas! E num rasgo, Paco faz slide to unlock, formatando bits, zeros e uns, abrindo para sempre a porta para um desconhecido que pode ser o Android.